terça-feira, 20 de abril de 2010

Contrariedades


Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.

Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.

Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.

Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve conta à botica!
Mal ganha para sopas...

O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.

Que mau humor! Rasguei uma epopeia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais uma redacção, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.

A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa
Vale um desdém solene.

Com raras excepções, merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e a paz pela calçada abaixo,
Um sol-e-dó. Chovisca. O populacho
Diverte-se na lama.

Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.

Receiam que o assinante ingénuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.

Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua "coterie";
E a mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.

A adulaçãao repugna aos sentimento finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exactos,
Os meus alexandrinos...

E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe humedece as casas,
E fina-se ao desprezo!

Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!

Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?

Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a "réclame", a intriga, o anúncio, a "blague",
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras...

E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe a luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!

Cesário Verde

sexta-feira, 26 de março de 2010

Quem és tu?


Tenho medo de te esquecer, que te esqueçam e que me esqueças! Tenho medo de me deparar com uma situação igual ou semelhante à tua!
Lá ia eu a caminho de Coimbra, sem saber o que me esperava, mas já me doía a garganta de evitar o choro, só queria desaparecer e não sabia com quem falar... Quando finalmente cheguei, esperei a minha vez depois subi no elevador e entrei num quarto, num quarto com dois senhores, um deles eras tu e eu não te consegui reconhecer :(, tio, não sabia quem eras, lamento! :'( Até que a madrinha disse: "é este, não te assustes emagreceu 15kg, é normal!", saberia lá eu que era a ultima vez que te ia ver vivo, são coisas que não se adivinham. E depois tiveste aquele ataque tão..."estranho" à minha frente (tive medo), apertavas a barriga com força para eu não reparar que algo estava desesperadamente a querer sair, mas eu vi no teu olhar o sofrimento de tanto tempo, tio! Vi-te a tentar ser forte e a não conseguires, mordi o lábio para não chorar, para veres a minha força e o quanto acreditava na tua sobrevivência, para veres que sou capaz de dar forças á nossa família, mesmo não estando tão presente como deveria estar. Ouço uma voz dizer: "Carolina, por favor vai para a sala de espera, ele tem de descansar!"
Fomos embora, todos choravam, menos eu...tive que me controlar tanto, só Deus sabe...!!!
dois dias depois, quando supostamente te ia visitar de novo a minha mãe liga-me e diz que precisa de falar comigo (a chorar) e que daqui a 10 minutos estava em casa, quando desliga deparo-me com 3 SMS's correntes a dizer algo do género: "esta noite, Padre João faleceu(...)" não li mais. Não acreditei, tinha tantas esperança na tua vida...não podia acabar assim, não podia!!! Liguei para Inglaterra (para o meu pai), não me atendeu! Liguei à minha mãe e disse que já sabia do sucedido, chorou baba e ranho e eu continuei sem chorar!

Prefiro não falar mais!
Bom fim-de-semana!
Carolina Ribeiro

sexta-feira, 19 de março de 2010

Saudade

"A saudade que sinto quase que me come

Quero ouvir-te a sussurrar no meu ouvido

Quero enroscar-me em ti e perder-me"


Carolina Ribeiro

terça-feira, 16 de março de 2010

★ Rezo por ti!



Quanto esperei este momento, quanto esperei que estivesses aqui...


Passaram-se 10 meses, 10 meses de desespero, de medo, de sufoco, até ao dia em que chegas e te disse baixinho para só tu ouvires: "Sê bem-vindo, meu irmão!"... Gritei, chorei, revelei...nunca te ouvi, nunca de vi, nunca te senti e amo-te tanto, e já me és tanto, e já me és um pouco mais-que-tudo, és menor que uma ervilha, tens duas semanas, já pensas?; Sentes o que te digo?; Sentes o que sinto?.

Estou tão excitada mas com tanto medo! Rezo por ti, rezo por todos os que passam por isto.. Foram tratamentos, foram meses de médico em médico... Mãe, tudo vai correr bem, tudo vai deixar de ser uma incógnita, espera 12 semanas, acalma-te 12 semanas, vamos ser felizes, fazer com que tudo corra bem! Vamos sorrir, vamos deixar de pensar nas consequências, vamos acolhe-lo na nossa casa, nos nossos corações com alegria, como sempre o esperámos! Estou tão ansiosa para daqui 9 meses te ver, te tocar, e para daqui (aproximadamente) 19 meses te ver a caminhares e dizeres "mana?", chorei baba e ranho quando te descobri, fiquei sem voz, sem reacção... Quero que tudo seja perfeito, vamos ter diferença de 17 anos e vou ver o teu percurso como normalmente ninguém o vê! quero-te dar aqueles conselhos na tua adolescência e quero que confies em mim! Como estou feliz!

Rezo por ti!

Ninguém te ama como eu (...)!


Carolina Ribeiro